Vivências
na Educação Especial
Por Flávia Guisi
02 de março de 2021.
Ser professor é lidar com crianças
que necessitam de atenção especial a todo momento. Se um professor disser para
você que toda criança é igual, desconfie. Pode ser um iniciante, ou alguém que
faz o trabalho sem se atentar para o que ele é de verdade. Ser professor é
saber lidar com sentimentos que aparecem de forma diferente, mas que são
iguais. Ser professor é caminhar num terreno que vai sendo desenhado ao mesmo
tempo que se caminha. Ser professor é saber que a diferença é maior qualidade
que alguém pode ter.
Já recebi crianças de diversas formas. De todas não, porque a todo segundo nasce uma criança diferente, de cultura diferente, de cor, de olhos, de pensamentos... enfim, crianças são seres que alegram e colorem o universo, são como as flores para o jardim, os peixinhos para o mar, os beija-flores e borboletas para as flores. Crianças são os terrenos mais férteis para fazer arte e descobrir um mundo novo a cada dia.
Por ter recebido crianças de
diversas formas, eu vou me poupar de fazer essa reflexão apenas em crianças
diagnosticadas com autismo, ou hiperatividade, eu já recebi crianças de tão
diversas e incríveis formas que falar da diferença como se fossem apenas estas,
seria como ver apenas por um ângulo. As crianças são para mim como flores que
vão abrindo aos poucos suas pétalas, e ao mesmo tempo como uma espécie de arte
completa humana, espontânea, sem o mínimo de corrupção ou maldade. As crianças
com necessidades especiais são sempre a inspiração da sala. Elas são os
melhores amigos das outras crianças. As crianças se sentem felizes por serem
amigas delas, na maior parte das vezes. Claro que às vezes também sentem medo,
pois há algumas manifestações das crianças especiais que assustam. Mas são
apenas manifestações de faltas que elas sentem. E de excessos. A criança que
é superprotegida age como se cada não
fosse o princípio de um terremoto. Já a criança que sente falta de algo responde
com a agressividade. É normal que em ambos os casos as crianças também agirem com
influência da convivência de seus pais e parentes próximos, amigos, pessoas de
convivência diária. Tudo isso deve ser pensado e analisado. Acredito que muita
criança atualmente vem sendo diagnosticada sem que antes haja mudança no
comportamento dos pais. Este fator influencia muito. O Estado também deveria se
atentar mais a esse aspecto. Ter um filho no mundo de hoje, no meio de tanta
pressão e responsabilidade merece um acompanhamento psicológico.
Vou compartilhar aqui algo que
aprendi com a educação de crianças com necessidades especiais. Primeiramente,
jamais aja por impulso. Sempre que estiver com elas, analise a cada momento
suas próprias ações. Esteja aberto a mudanças delas e suas. Esteja aberto à
negociação, e nunca aja com extremo impulso, pois o impulso é algo que as deixa
irritadas e descontroladas. Deixe que as crianças ao redor se manifestem
também. Observe, pois estes são os momentos que você mais aprenderá. Permita sempre que sua criança faça os exercícios.
Jamais a punição pode ser uma atividade, deixe a punição para parques ou
brincadeiras com brinquedos. Estes são os preferidos delas, pois estas crianças
necessitam de liberdade e de brincar e ser livremente. Não sabem controlar seus
impulsos e vivem a vida com mais intensidade. Sempre que houver desafio,
responda oferecendo duas alternativas. Por exemplo: Desafio: Sair do parque; a
criança não quer sair, então ao invés de brigar com ela, ofereça duas
alternativas: - Você escolhe: podemos calçar os sapatos aqui no parque ou lá na
sala para beber água depois. Qual você prefere? Por se sentir no controle da
situação a criança pode se acalmar. Ou não. Se não, você usa outra técnica. A
criança com necessidade especial exige que você tenha uma atenção especial em
todos os momentos.
Uma coisa interessante que percebi foi que
quando não temos professor apoio na sala, as próprias crianças viram apoio,
aquelas crianças que gostam de demandas de responsabilidade. Em vários momentos
já presenciei disputa entre duas ou mais crianças para ajudar. Crianças são
muito companheiras!
O trabalho com crianças especiais é o que
mais nos humaniza e ensina. Se você já teve alguma, com certeza já, pois em
todas as turmas existe uma criança, ou adulto, com necessidades especiais, você
sabe o quanto isso é precioso no seu currículo como professor e como pessoa
humana também. Você sabe do que é ser agradecido por ter tido essa convivência,
e com certeza, eu sei, você sente um carinho extremamente especial por essa
criança com necessidades especiais!
Créditos:
Imagem: Rafaela Fonseca Gontijo.
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